A dona da mata

Imagem: reprodução / google images. Pra cego ver: desenho digital colorido de garota com características de idosa, pele morena um pouco flácida e coluna um pouco curvada para frente. Seus cabelos são longos, lisos e castanhos. Ela usa vestido velho e vermelho, e encara o observador com expressão antipática.

Por Carlos Rodrigo

Dizem que o ser humano tem medo do desconhecido, e esse é um dos motivos pelo qual a morte é temida. Com a ausência da luz do dia, a nossa visão se limita, em alguns ambientes passamos a desconhecer visualmente o que há ao certo ao nosso redor. Pode estar aí a associação da noite com o medo, a ligação dela a criaturas maléficas, quem sabe? Bem, foi apenas durante a noite que a senhora Maria Aparecida, moradora de Crato, Ceará, em determinado período da infância em Jardim, Ceará, viu quase todos os dias um ser sobrenatural e dito perigoso, conhecido por muitos.

A mulher morava no campo, sem vizinhos. Lá, toda noite uma “garotinha” passava próximo a casa, e só quem via era Aparecida, que a identificou como a Caboquinha, uma menina baixinha, morena, com cabelos lisos e muito compridos. Era tanto cabelo que quase não se via a pele dela. “Ela era linda” disse Aparecida, então provavelmente você não sentiria medo dela por sua aparência (já por sua natureza desconhecida e aparição repentina sozinha na mata, talvez). 

“A Caboquinha é a dona da caça e da serra. Onde tem caça ela está, onde tem serra, ela está”, disse o amigo de Aparecida residente em Jardim, Francisco Feitosa, ex-caçador. Segundo ele, fez negócios com a menina inumana: para que tivesse sucesso nas caçadas, entregava a ela pratos de comida. Sobre a culinária ressaltou, a comida podia ter tudo, menos alho e pimenta. Além de comida, ela também aceitava cigarro. Feita a entrega dos desejos da defensora da mata, a mesma colocava a caça frente ao caçador, e se necessário ainda passava assobiando por cima da casa do mesmo, um tipo de aviso de que a caça tinha sido trazida para perto. 

Há quem diga também que a Caboquinha fazia suas permutas apenas por fumo. Em Santana do Cariri, o jovem Berg conta que o seu avô relatava histórias sobre a dona das matas ao trabalhar com agricultura familiar. Na roça, o senhor precisava deixar fumo e isqueiro a noite sob alguma árvore para que os tratos culturais ocorressem em paz.

Tanto no caso dos pratos, quanto dos fumos, precisavam ser deixados na mata para que a Caboquinha o pegasse quando bem entendesse. Caso outro alguém tentasse levar, este levava uma tremenda surra "de beirar a morte".

A lenda diz que a criatura atacava com chicotadas utilizando de cipós e também de seus longos cabelos, ou com as unhas compridas e resistentes. José diz tratar-se de um ataque que a vítima é pega de surpresa, logo caindo no chão e sofrendo os açoites sem muitas vezes nem ver de onde as investidas estão vindo.  

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