A maldição de Vicente Finin
![]() |
Imagem: Reprodução / Freepik. Pra cego ver: desenho digital de lobisomem caricato, dois pedaços de bife cru flutuam ao redor dele, mas ele não dá a mínima, está de mal humor. Imagem com fundo completamente azul, e lua amarela no topo. |
Logo no início do Caça-fantasmas, uma das primeiras histórias que me disseram não poder ficar de fora da lista dos escritos do projeto, foi a do Vicente Finin. Ninguém sabe ao certo onde ele viveu. Em conversa com o povo, disseram ser filho de Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Farias Brito... o que se sabe é que o nome é do Cariri, e todas as versões ouvidas se encaixam nessa que vou contar agora.
Certa manhã, no sítio, o jovem Vicente Finin recebeu uma ordem da mãe, "vá deixar o de cumer do seu pai lá na roça, meu fi". O rapaz era cheio de malandragem, e de certo não fazia o tipo obediente, mas pegou a marmita para levar ao trabalhador.
A família vivia em situação de pobreza. Casa pequena, com tintura velha descascando nas paredes, piso de cimento queimado rachado em alguns pontos, janela de madeira corroída pelos cupins. Não passavam fome, mas o trabalho suado não dava pra muito coisa além da alimentação limitada. Inconformado com os pedaços de carne contados que tinha a comer no almoço, Vicente Finin abriu a marmita do seu pai no meio do caminho e devorou a mistura.
O homem da roça notou logo a falta e indagou ao filho o motivo de receber a refeição incompleta. Vicente Finin contou a mentira mais sórdida, "a mãe que tá fazendo o sinhô de corno! Levou um caba lá pra casa e ele comeu tua mistura, por isso que num sobrou!".
Irado, o pai do rapaz abandonou o dia de trabalho e foi até sua casa. Vicente ficou lá, na sombra de uma árvore, rindo da brincadeira de má índole. E o pior que poderia acontecer, aconteceu, o pai não se controlou, a raiva foi tenta que não deu ouvidos a uma palavra da mulher. Começou com empurrões, depois murros, e no fim a mãe estava no chão, em seus últimos suspiros. Mas ela não partiu sem antes lançar uma praga: seu filho viraria bicho em noite de lua cheia, e nessas noites correria por sete freguesias, sem parar, atormentado e atormentando. E assim Vicente Finin se tornou um lobisomem.