Sobre o projeto

"A proposta é ouvir os personagens que envolvem as histórias e as diversas faces que poderão ter cada uma delas, reconhecendo o valor cultural que têm na sociedade"


Título: Caça-fantasmas.

Categoria: Ação de extensão e cultura

Eixo temático: Arte, acervo e memória.

Histórico:

O caça-fantasmas foi idealizado por Carlos Rodrigo no fim de 2017, até então estudante do 4º semestre de Jornalismo da Universidade Federal do Cariri - UFCA. A ideia foi debatida com os amigos Sávio Emanuel e Espedito Duarte (ambos estudantes de Jornalismo), que colaboraram na escrita do projeto, e tornaram-se também fundadores. No primeiro semestre de 2018 o caça-fantasmas iniciou suas atividades sob orientação da professora adjunta do curso de Jornalismo Elane Abreu, com incentivo da Pró-Reitoria de Cultura (Procult) da UFCA. O projeto foi contemplado com uma bolsa pela Procult, como "ação de cultura da comunidade acadêmica", nos anos de 2018 e 2019. No primeiro ano, fizeram parte da equipe Sávio Emanuel, Espedito Duarte, e Carlos Rodrigo. No segundo ano, as estudantes de Jornalismo Julita Agapto, Judivânia Barbosa, e os estudantes de Biblioteconomia Lázaro Almeida e Matheus Pereira integraram o time. Durante o período realizou produções audiovisuais e literárias, oficinas em escolas, e participou de entrevistas em programas de podcast como o "Noite Adentro" e o "Budejo". No início de 2020 foi aprovado em segundo lugar, com uma bolsa, pela Pró-Reitoria de Extensão (Proex) da UFCA para integrar o grupo de projetos no Programa de Protagonismo Estudantil (PROPE).


Apresentação:


A proposta do projeto é ouvir personagens que envolvem as histórias assombrosas, de trancoso, lendas e as diversas faces que poderão ter cada uma delas, reconhecendo o valor cultural existente para a sociedade. Essas histórias devem se encontrar no Cariri cearense, independente de terem surgido ou sido reformuladas nele. Como forma de reconhecimento, além da narração escrita delas (em mapeamento), pretende-se: produzir e fomentar a produção audiovisual, fictícia e documental, relativa a temática; produzir e fomentar a produção literária, de Ficção ou Não Ficção, acerca das histórias que no Cariri circulam.

O projeto possui alguns produtos: o documentário “Sertão Assombrado”, a áudio-peça “Rezadeira - O caso da família Cabral”, o livro “Rezadeira”, a websérie "Mais uma de assombro", e este site com exposição dos produtos e narrativas escritas. Pretende-se ministrar periodicamente oficinas em escolas/universidades/escolas de saberes/centros culturais/eventos, que serão articuladas por demandas recebidas (solicitações através dos contatos dos projetos), ou propostas pelo próprio projeto em parceria com as instituições, dando preferência às escolas públicas, ao público de vulnerabilidade socioeconômica. As oficinas ofertadas, tendo como temática as histórias populares assombrosas, serão de roteiro e produção audiovisual com o celular; escrita de Conto e Romance. Elas serão introduzidas com exibição de algum(ns) dos produtos do projeto. Cada oficina terá produtos finais produzidos pelos estudantes (mini-série documental, e Conto) que serão publicados pelo projeto (em seu canal no YouTube e/ou redes sociais, no caso dos produtos audiovisuais; em plataformas de leitura digital ou tiragem impressa, no caso dos Contos, os quais serão, os melhores, organizados em uma antologia). As oficinas contarão com interação dos estudantes, estimulados a relatar suas memórias relativas a temática, e a conduzir a equipe do Caça-fantasmas a outros personagens de seu ciclo de convívio aptos a contribuir com relatos também, gerando assim um mapeamento.

O mapeamento (caracterizado aqui como um conjunto de textos escritos pelos membros do projeto, ou colaboradores diversos, para registro textual das histórias) se mostrou uma boa maneira de sistematizar as informações coletadas, as quais serão publicadas em site na internet. Antes de visitações a locações (comunidades, bairros, ruas, casarões, sítios, distritos, áreas rurais, arredores de locais abandonados, pontos turísticos) para mapeamento, um questionário será elaborado. Nele será pautado perguntas destinadas às pessoas que desejem relatar os seus conhecimentos e memórias sobre as histórias de conhecimento popular e vivências pessoais relacionadas, facilitando a eficácia da visita.

Não o bastante, além do mapeamento, durante as pesquisas será feito o registro audiovisual das entrevistas e depoimentos. O objetivo é a construção de narrativas documentais, seriada e cinematográfica, descobrindo novos personagens e aprofundando a exploração de personagens já abordados anteriormente pelos estudantes das oficinas. O projeto fica aberto, durante todo o seu tempo de atividade, à submissão de originais para análise que culminará na publicação de antologias de contos e de romances, independente dos escritores (caririenses ou residentes no cariri há mais de dois anos) terem participado de oficina com o projeto ou não. Além disso, diante das experiências proporcionadas pela ação, os membros do projeto ficam livres para escrita e publicação por meio dele também, bem como livres para produção de peças de ficção audiovisual (curta-metragens).O Caça-fantasmas se propõe também, a fazer tiragens de seus produtos, livros e filmes, para a distribuição dos mesmos nas oficinas e para instituições interessadas.



Justificativa:


O imaginário popular é repleto de histórias assombrosas. O que não falta são pessoas que afirmam ter visto ou ouvido coisas estranhas, surreais, histórias novas ou passadas pelas gerações anteriores. Na região do Cariri, terra com forte presença de misticismo religioso, uma breve investigação bastaria para encontrá-las, assim como lugares ditos “assombrados”. Se essas histórias são verdadeiras ou falsas, não nos compete determinar, ou investigar cientificamente, afinal, "através de histórias, as culturas criaram (e criam) mitos com o objetivo de tornar compreensíveis e interpretáveis a existência humana e tudo o que existe." (Azevedo, 2007, p.1).

Para escolher a temática do Projeto Caça-fantasmas, pensou-se no seu ineditismo, sendo este um dos fatores que demonstram a carência do registro cultural das histórias populares assombrosas contemporâneas do Cariri cearense. O Cariri, especialmente Juazeiro do Norte, é conhecido pela fé do povo, que carrega em sua cultura um intenso misticismo religioso. É comum que se chame Rezadeiras para fazer “limpezas” espirituais em casas, ou pessoas. O povo acredita e tem histórias interessantes para contar, algumas mais populares do que outras, com traços do folclore brasileiro, ou outras localidades do mundo, como diz Ginzburg, Cascudo, na Geografia dos mitos brasileiros, “todos os folclores possuem essa sinistra galeria de assombros. [...] São mosaicos cujos embutidos trazem as cores de todos os medos humanos e primitivos”.

Segundo Sandra Nancy, em sua dissertação Oralidade, memória e tradição nas narrativas de assombrações na região do cariri, são a xilogravura e o cordel os produtos culturais com maior presença da reverberação da história oral aqui em questão. Levar essas histórias para outros produtos enriquece outros segmentos artísticos da região com conteúdo local, de valor histórico, pois “esse patrimônio cultural representa expressões autênticas das crenças populares” (Bezerra, 2011, p. 13).

Trabalhar as histórias de assombrações caririenses no audiovisual eleva o impacto do projeto, principalmente no que tange ao alcance por meio de diferentes plataformas, e fortalece o cinema regional. Dessa forma, sobre o nosso cinema, nos lembra Barros que “os filmes são parte de um sistema de representação audiovisual que nos ajudam a melhor compreender quem somos enquanto brasileiros” (2017, p. 82), portanto é importante também a abordagem de temáticas que valorizem a identidade nacional. Além disso, produzir e fomentar a produção audiovisual, tanto cinematográfica, quanto seriada, ajuda a fortalecer o cenário regional no segmento, impactando na cultura e economia.

Do mesmo modo, produzir e fomentar a produção literária impactará na cultura, economia e educação, tanto por despertar em estudantes o gosto pela escrita, quanto pela leitura. Ao ministrar oficina de escrita, é indispensável trabalhar a leitura também através da interpretação de estruturas narrativas, pois o ato de ler está “sempre relacionado à escrita, mas ler é algo muito mais complexo, não é só decodificação de símbolos (letras), é antes de tudo entender o mundo, sons, símbolos, imagens, é interpretar o enterno" (BORINI, 2005). Além disso, conforme lembra Cagliari (2004), observa-se a importância da leitura quando a maioria dos problemas enfrentados pelos alunos desde criança até o nível superior está relacionado às dificuldades de leitura.

O fato de as oficinas serem ministradas preferencialmente para um público de vulnerabilidade socioeconômica, dá oportunidades de boas ocupações para jovens, o contato dos mesmos com novos conhecimentos e fazeres artísticos específicos, que é importante na formação de qualquer indivíduo, e que muitas vezes não ocorre por condições financeiras. Outrassim, “a arte proporciona um contato direto com nossos sentimentos, despertando no indivíduo maior atenção ao seu processo de sentir”.

Ao disponibilizar mapeamento em site, torna-se o material acessível para a comunidade digital utilizá-lo de forma livre, gerando a possibilidade de o estudo reverberar em novos estudos, produções culturais, ou científicas. Trabalhar a acessibilidade não só do site, mas dos produtos do projeto, para pessoas com deficiência visual o fará ultrapassar barreiras em termos de alcance e inclusão social.

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